A terapia do esquema (TE), além de ser uma forma avançada das terapias cognitivo-comportamentais, também representa uma contribuição relevante ao campo da personalidade e do desenvolvimento humano. Em suas teorizações sobre o desenvolvimento dos transtornos da personalidade, acabou por explicitar uma série de aspectos cruciais para o entendimento da personalidade normal e/ou patológica, como, por exemplo, a relação entre genética e aprendizagem, os aspectos cronológicos relativos à evolução da identidade pessoal, bem como o efeito das experiências continuadas com cuidadores e figuras de afeto na infância. Vários desses aspectos ou não eram abordados pelas demais terapias cognitivas, ou o eram de forma muito incipiente. Pode-se dizer que a Terapia do Esquemas integrou de maneira coesa e dinâmica todas as postulações anteriores da Terapia Cognitiva-comportamental, gerando uma abordagem completa e integrada do desenvolvimento dos padrões comportamentais, emocionais, cognitivos e motivacionais dos indivíduos.
A estruturação da personalidade é vista como um processo natural e que tem suas fundações nas bases genéticas herdadas, as quais definem o temperamento e, assim, as tendências comportamentais, afetivas, cognitivas e motivacionais que sofreram os efeitos do ambiente por meio das aprendizagens constantes no transcorrer do ciclo vital. Já a importância do papel do temperamento é mais explicitada na TE, visto que este era considerado apenas mais uma influência pelas demais teorias cognitivas, não sendo, portanto, definida a extensão de seus efeitos. O temperamento é visto como a base que determinará as tendências de funcionamento do indivíduo e, assim, tem vital efeito sobre o resultado final na identidade pessoal. Sendo o temperamento um determinante biológico da personalidade, é previsto que ele não poderá ser totalmente modificado pelas influências ambientais posteriores ao nascimento. Portanto, as tendências geneticamente herdadas poderão ser amplificadas, reduzidas, encobertas ou expressas em sua natureza, mas nunca eliminadas ou aumentadas exacerbadamente em sua totalidade.
O grande diferencial na Terapia dos Esquemas é em relação ao papel do temperamento é a ideia de que ele determina a quantidade ideal requerida das necessidades emocionais básicas do sujeito em cada um dos momentos críticos do desenvolvimento Esquemas disfuncionais. Portanto, dependendo de seu temperamento, uma pessoa pode, por exemplo, requerer mais demonstrações de afeto de seus cuidadores no início da vida que seu irmão, o qual, de forma inversa, pode necessitar de maior quantidade de limites afetivos em uma fase mais posterior. Vê-se, assim, que a TE consegue explicar a complexa e multifatorial “equação” do desenvolvimento da personalidade humana, ao mesmo tempo que demonstra a complexidade requerida dos cuidadores na disponibilização das necessidades básicas das crianças ao longo da infância e da adolescência.
Os Esquemas são conjuntos de crenças nucleares referentes a temas centrais do desenvolvimento emocional. Eles estabelecem padrões comportamentais, cognitivos e emocionais para lidar com tais temas quando estiverem em pauta na vida do indivíduo. Desenvolvem-se desde a tenra infância até a adolescência e influenciam recorrentemente toda a vida do sujeito, trazendo sofrimento e/ou prejuízo em diversos contextos. A TE afirma que alguns Esquemas, em especial aqueles desenvolvidos na infância inicial e decorrentes de experiências negativas, são centrais no aparecimento de transtornos da personalidade e em outras condições mentais. Da mesma forma que as crenças nucleares da terapia cognitiva (TC) tradicional, os Esquemas também são estruturas que armazenam crenças, suposições, regras e outras memórias.